sábado, 20 de fevereiro de 2010

Tempestade na Madeira

Ao assistir pela televisão e pela Internet à tempestade que assolou, destruiu e matou na ilha da Madeira, vieram-me à mente os três anos que vivi na baixa do Funchal, junto da Ribeira de Santa Luzia. Recordo-me de alguns dias de chuva forte e do barulho ensurdecedor e ameaçador da ribeira. Nesses dias, a minha reacção era ir para cima das pontes (muitas das quais ruiram agora) assistir à fúria das ribeiras, fúria essa que era ignorada pelos madeiresnes, talvez por estarem habituados.
Este cataclismo mostrou-nos o modo como as forças da natureza são brutais e invencíveis.
Esta tragédia obriga-nos de novo a reflectir sobre o sentido da vida, das construções megalómanas e da falta de solidariedade entre as pessoas por causa da sociedade competitiva e sem valores que temos.
No entanto, em momentos como este tudo é posto em causa e é quando tudo pára para se poder recomeçar de novo. É também nestas alturas que podemos ver a solidariedade entre as pessoas, a qual parece ter desaparecido, mas reaparece nestes momentos dolorosos.
Esta tragédia tal como a do Hiti ou no início do ano as inundações no Brasil e outras que se seguirão pode ser, por incrível e macabro que pareça, a salvação da humanidade em relação a uma possível guerra mundial, uma vez que a reconstrução que se seguiria a uma guerra, segue-se após a tragédias desta dimensão.
Muitos poderão ficar chocados comigo, mas a verdade é que o capitalismo internacional, após as crises, inventa, promove e pressiona para que ocorram guerras, para que depois haja reconstrução, logo crescimento económico e revitalização económica e financeira.
Estamos numa sociedade cujos valores são inexistentes e em que quase não existe sentimentos. Já chegámos ao ridículo de ver muitos jovens a rirem-se de imagens sobre o holocausto, porque acreditam nessas novas correntes, segundo as quais o holocausto nunca existiu. Por isso, estas tragédias provocadas pela natureza acabam por repor o equilíbrio e por nos forçar a ser mais humanos, sensíveis e solidários, até porque estes temporais são consequência do aquecimento global e este tem origem única e exclusivamente no factor Homem. Além disso, ciclicamente ocorrem tempestades como a que ocorreu na Madeira ou sismos como o que ocorreu no Hiti, portanto nós homens não somos assim tão omnipotentes, invencíveis e poderosos como muitos de nós julgamos.
Relativamente ao que se passou na Madeira, julgo que com o esforço e a solidariedade de todos os portugueses os madeirenses irão a muito curto prazo regressar à sua vida normal.
Cada povo possui característica boas e más. A maioria dos madeirenses tem uma característica muito boa que é a reacção adversidade. Se assim não fosse, seria difícil sobreviver numa ilha em que a orografia, o isolamento e por vezes o mau tempo dificultam drasticamente a estabilidade e o bem-estar das populações.

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