quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A mentira da educação

Peço desculpa às pessoas mais sensíveis a este tema, mas quando eu disse o que disse sobre a educação não foi de ânimo leve, até porque eu tenho estado ligado ao ensino nos últimos anos e não ganho nada em condenar a educação em Portugal. Também não quis dizer que em Portugal todas as crianças ou jovens são maus, aliás neste ano lectivo estou a leccionar várias turmas e à excepção de uma, não considero os meus alunos maleducados, sinto-me portanto um privilegiado, neste momento, em relação a colegas meus.
Acho é inadmissível que se queira desculpabilizar sempre os alunos, pelo seu mau comportamento e/ou falta de aproveitamento, culpando em simultâneo os professores por tudo e por nada, culpabilização essa que por vezes surge da parte dos responsáveis pela educação e até por parte de alguns professores. E qual o castigo para os docentes? A avaliação e o estatuto, para já não falar dos horários de trabalho.
Depois ainda têm surgido economistas, deputados, jornalistas, governantes etc. a criticar ferozmente os docentes, até porque isso, tem estado na moda e é muito popular. Qualquer dia nem sei quem quer ser professor em Portugal, uma vez que já pouco falta para os docentes serem vistos como bandidos.
Com tudo o que se tem dito dos docentes portugueses, até parece que os professores portugueses são os piores do mundo, sendo por conseguinte os culpados da baixa qualificação da generalidade dos portugueses e já agora da crise económica e orçamental que o país tem estado a passar. Esquecem que o pouco interesse das crianças, jovens e adultos pela escola não passa de uma questão cultural. Esquecem que se não houvesse professores ninguém saberia ler, escrever, contar, pensar, etc. Os senhores que criticam odiosamente os docentes esquecem que se não fossem eles, os professores piores do mundo, segundo alguns "os inúteis mais bem pagos do país"; "aqueles que são privilegiados"; os que têm cinco meses de férias", esses senhores críticos não seriam políticos, empresários, economistas, jornalistas, escritores, etc.
Alguém pode considerar privilégio uma docente mãe ser penalizada na carreira por ter filhos ou por ficar em casa a cuidar das doenças dos filhos? Alguém pode atrever-se a considerar privilégio um professor ser penalizado por ter faltado quatro ou cinco dias devido ao luto por um familiar directo? Alguém pode considerar privilégio um professor ter de passar doze e treze horas numa escola em vez de estar algum desse tempo em casa a preparar as aulas e os testes? Só quem não goza de bomsenso não me pode dar razão.
Por causa dos docentes serem tratados como são é que muitos têm abandonado o ensino. Só na escola onde lecciono actualmente, em espaço de um ano foram três jovens professoras contratadas que abandonaram o ensino com grande prejuízo para os alunos. Aquelas três docentes eram pessoas muito educadas não estando, por isso, para se submeter à indisciplina intolerável dos seus alunos. Dá que pensar, sobretudo numa época de crise e com tanto desemprego.
Muitos perguntarão legitimamente: então e o que propõe?
Sem prometer resolver tudo, haveria muitas medidas que poderiam melhorar a qualidade do ensino:
1. A redução do horário dos alunos, sobretudo no terceiro ciclo, para que eles tivessem mais tempo livre até para se poderem dedicar às disciplinas mais importantes, praticar desporto, libertando assim energias que estão acumuladas e, que muitas vezes são gastas dentro da sala de aula.
2. Punir os alunos que não cumpram sistematicamente as regras das escolas, das salas de aula ou que desrespeitem os professores, forçando-os a prestar trabalho comunitário - de acordo com as suas possibilidades físicas e idade - em instituições de solidariedade social que apoiem crianças, idosos, deficientes e pessoas desfavorecidas.
3. Os pais devem prestar mais atenção ao percurso escolar dos seus filhos, ouvindo os professores (directores de turma) e, revistando mochilas, vigiando as imediações das escolas para saber o que se passa junto às escolas, etc.
4. Aos políticos, psicólogos, sociólogos, comentadores, escritores, etc. que vêm para a televisão, rádio, internet e jornais dar a sua opinião, muitas vezes infundada sobre a escola, defendendo os alunos e denegrindo os professore, peço-lhes encarecidamente que reflictam na sociedade que estão a criar. É que um dia destes são as crianças e os jovens que mandam em todos nós e quando isso acontecer é que todos irão ver a crueldade, agressividade e a falta de valores que muitos adolescentes e jovens têm.
É evidente que os pais em casa e os professores na escola é que mandam, independentemente de ser bem ou mal, por isso, há que reforçar a autoridade dos professores na escola e melhorar a imagem do docente na sociedade, tão posta em causa nos últimos anos e, que está a levar ao abandono da profissão por parte de milhares de profissionais experientes e dedicados.
Peço desculpa aos adolescentes e jovens que ainda são íntegros, alguns dos quais são ou foram meus alunos, mas a impunidade para com aqueles que não cumprem as regras de convivência social, escolar ou familiar não pode continuar eternamente, porque caso não não se haja um dia destes teremos a barbárie, a desumanidade, a lei do mais forte. Tem de haver justiça. É verdade que todos têm direito a uma oportunidade, contudo se em vez de a aproveitarem a rejeitarem, poderão não ter direito a uma segunda.

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