Não quero estar a ofender ninguém, nem sequer pretendo generalizar, até porque existem muitas e boas excepções e talvez eu me inclua nos portugueses que não deixaram o passado para trás, mas esta temática deverá ser abordada, principalmente, numa época em que Portugal está perto do abismo ou até da sobrevivência enquanto país. A falta de união nacional talvez nos tenha ajudado a chegar onde chegámos.
Não tenho nada contra às pessoas do mundo rural ou das pequenas vilas e cidades, pois também nasci no campo e, neste momento, vivo numa cidade intermédia, outrora muito ligada à agricultura e à indústria. Até porque não podemos subestimar a importância dessas actividades económicas nos dias que correm.
Com o decorrer dos anos e com os acontecimentos que eu diariamente tenho visto à minha volta, nas várias regiões do país que tenho percorrido, tive de chegar a uma triste, mas inevitável conclusão: Portugal está igual ao que era há vinte, trinta anos atrás.
É certo que agora temos infraestruturas, é verdade que as novas tecnologias de informação e de comunicação invadiram as nossas vidas, também não é mentira que o nível económico da maioria dos cidadãos se elevou, embora actualmente estejamos a assistir a um retrocesso e, muitas vezes, a elevação do nível de ostentação seja em grande parte fictício, na medida em que este resulta de dinheiro obtido de empréstimos bancários, mas o maior problema de Portugal são é a evolução das mentalidades.
Continuamos a repudiar os emigrantes, uns porque têm a pele um pouco mais escura, outros porque trazem o ar sereno do Amazonas, outros porque vieram de países pobres da Europa de Leste e trazem as compras nos sacos de plástico do LDL.
Continuamos a rir-nos e a rejeitar as pessoas gordas, considerando que estas talvez por serem mais volumosas, mais pesadinhas e menos atraentes fisicamente possam não contribuir em nada para o progresso social, atirando-as, dispensando-as e atirando-as para um canto.
Ainda andamos com a ficção de oprimir os homossexuais, tentando impedir-lhes a plena cidadania, nem que seja através da concretização do seu casamento civil, como se nós tivéssemos que lhes impor uma moral, um estilo de vida ou porque nós sejamos responsáveis pelos seus actos.
Julgamos que os pobres e os desempregados são pura e simplesmente dispensáveis da nossa sociedade, porque nada contribuem para o progresso económico do país, classificando-os ainda de parasitas,subsidio-dependentes que se divertem no café e na rua enquanto nós trabalhamos com esforço e sem ver grandes progressos salariais.
Abominamos as pessoas de etnia cigana, por venderem calçado e roupa nas feiras, como se não pudessem ter direito a um negócio ou ainda por viverem em casas camarárias ou por receberem o rendimento social de inserção, afinal um direito legal consignado a qualquer cidadão português.
Ainda consideramos que as pessoas com deficiências têm de estar à margem da sociedade, não tendo o direito de trabalhar por causa da sua deficiência, logo da sua incompetência, como se eles não pudessem ter casa, família, enfim uma vida digna como qualquer outra pessoa.
Podemos não gostar de toda a gente, mas devemos ser tolerantes e devemos respeitar os direitos humanos de qualquer ser humano que habita este planeta, pois a terra não é de ninguém, é de todos e o ser humano é único e insubstituível.
Em 2010, a discriminação, exclusão, racismo, xenofobia, etc. ainda estão mais vincadas devido à crise económica e à grande competitividade a que estamos sujeitos, hoje desapareceu a solidariedade e a compreensão e estamos mesmo a caminhar para uma situação perigosa, próxima do estado animal, na qual vence sempre o mais forte. Ignoramos que todos têm direito a uma oportunidade ou até mais na vida, que todos são pessoas com potencialidades que não devem ser menosprezadas, mas sim aproveitadas e potencializadas.
Este conservadorismo hipócrita, retrogrado e provinciano continua enraizado e vejo com enorme frustração que daqui por vinte anos continuará, dado que os pais continuam a transmitir aos filhos o anti-valor da intolerância para com a diferença.
Eu até me atrevo a perguntar a esses intitulados preconceituosos, mas auto-intitulados iluminados cidadãos bucólicos: e os senhores não possuem fragilidades, diferenças, fracassos? E por que não criticar os corruptos, os oportunistas, os ociosos, os verdadeiros destruidores da nossa sociedade?
É certo que ainda existe alguma diferença entre os grandes centros urbanos e os meios rurais ou as pequenas cidades. Estas atitudes acontecem mais nuns locais do que em outros, também é verdade que existe alguma diferença entre quem tem mais ou menos formação, contudo até nos grandes meios urbanos ou nas elites culturais se assiste a opiniões e comentários que há muito deveriam estar irradicadas da nossa sociedade.
E eu a pensar que o racismo, a intolerância, a xenofobia e a lei do mais forte já estavam há muito irradicadas do nosso Portugal! É por esta e por outras que levam a nossa pátria em direcção a um abismo irreversível.
Só no dia em que terminar a inveja social, em que se pensar na união, no contributo de todos para o bem comum e no respeito pela diferença é que poderemos sonhar com a resolução dos nossos problemas económicos, sociais, culturais, etc. Enquanto reinar um clima de desconfiança, de mesquinhez e de exclusão, Portugal não resolverá os seus graves problemas, mesmo com muitos sacrifícios que possamos fazer fazer.
Uma sociedade evoluída é aquela que tolera a diferença e dá oportunidade a todos e não apenas a alguns, só porque têm dinheiro ou porque são o senhor A, a senhora B. Só com a integração social o sol poderá brilhar para todos.
O futuro não augura nada de auspicioso para ninguém, contudo temos de ter esperança no dia de amanhã, pois de novo o Sol reinará e outro galo cantará.
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