sábado, 1 de novembro de 2008

Escola

Chegou ao meu conhecimento via e-mail que a plataforma de sindicatos de professores e os movimentos independentes dos mesmos chegaram a acordo para uma magamanifestação em Lisboa no próximo dia 8 de Novembro.
O governo Português continua a insistir num modelo de avaliação com alguns critérios dúbios e subjectivos para além de ser uma avaliação muito burocrática.
Este modelo de avaliação decalcado do Estatuto da carreira Docente visa mais colocar os professores fora da carreira ou pelo menos impedir que eles progridam do que promover e melhorar as suas práticas pedagógicas,corrigindo o que na verdade possa não estar bem.
O Ministério não aprendeu nada com a última manifestação de cem mil docentes, não só continua com a avaliação e com o novo modelo de gestão das escolas como pretende que a avaliação conte para os concursos de mobilidade e recrutamento de docentes, já agora porque não obrigar os docentes a colocarem ao peito um cartaz com o resultado da sua avaliação.
Estes governantes e não só querem que os professores sejam acéfalos, que hajam maquinalmente, que sejam corpos ambulantes e estejam sempre trancados nas escolas ou em casa a trabalhar para ela, estando ainda encurralados na sua própria avaliação. Neste caso os únicos prejudicados são os alunos e um pouco os familiares dos professores e a saúde física e mental deles.
O que se pretende é que os docentes dos ensinos básico e secundário não possam de modo algum participar na sociedade (partidos políticos, associações, organizações cívicas ou de apoio social, etc.). Pretende-se que os docentes vivam isolados da sociedade, que não tenham tempo para ler um livro, ver um filme, ir a um teatro, visitar a família, conhecer outras regiões ou nações, etc.No entanto a restante sociedade pode condicionar a vida escolar.Isso não é mais que passar um atestado de minoridade, infantilidade e mediocridade aos docentes deste país.
Tenho recebido e-mails de raparigas que são professoras e que estão de baixa por não aguentarem mais estar na escola com este ambiente e sobrecarga de trabalho. Muitas pensam em não acabar os seus dias na escola. Assim poderemos continuar a assistir a uma enorme sangria de docentes das escolas públicas nos próximos anos. Acho bem que as pessoas abandonem o ensino, caso não se sintam bem e não se consigam adaptar até porque este modelo de avaliação, associado ao modelo de gestão escolar que aí bem, à pressão do governo e de outras pessoas, poderá a prazo dar cabo das pessoas.
As escolas portuguesas estão a ser remodeladas e apetrechadas de novas tecnologias, por isso, a médio prazo iremos ter escolas novas ou pelo menos com aspecto disso, quadros interactivos, salas com Internet e computadores portáteis, contudo não sei se iremos ter muitos docentes para trabalhar lá e se os tivermos poucos serão portugueses.
Uma das possibilidades de acabar ou pelo menos travar esta política será em Outubro de 2009, retirarmos do poder ou não darmos a maioria absoluta ao PS, pois José Sócrates já disse que era bom ter a maioria absoluta para que o interessa geral se sobrepusesse ao interesse das corporações e é claro uma destas é a classe docente. Temos que apostar em políticas alternativas, mas que defendam a escola pública e os restantes serviços públicos, dado que estas políticas, sobretudo, no que se referem aos docentes poderão colapsar a escola pública, o que é tão mau como a sua privatização, aliás o colapsar e a confusão na escola pública pode mesmo ser, no futuro, um pretexto para entregar totalmente ou parcialmente à iniciativa privada as escolas.
Uma coisa me parece óbvia, existe por parte do governo e dos seus seguidores uma tentativa de descredibilizar os docentes perante a opinião pública, crianddo mesmo as condições para a sua destruição enquanto profissionais e cidadãos. Corremos o risco de um dia os professores serem vistos como bandidos logo alvo de todos os ataques e de não terem qualquer direito.
Nos últimos anos, foi fácil ver as pessoas na rua, cafés, autocarros, etc. a criticar dos docentes e mesmo dos funcionários públicos em geral. O governo é que fez isto e como Portugal é um país onde a inveja e a mesquinhez ainda abundam, talvez pelo baixo nível cultural, é fácil verem-se estas coisas. Uma vez até fui ofendido por um psicólogo por causa dos professores, por isso, é normal o que se diz dos docentes um pouco por todo o lado.
Muitos poderão perguntar por que razão eu defendo tanto os professores, para já sou licenciado em Linguística, tenho a formação inicial no ramo de formação educacional - ensino da Língua Portuguesa - e já dei aulas.
No entanto, sou um dos muitos que no futuro poderei dizer não a essas escolas que se irão tornar um inferno para trabalhar com conflitualidade, arrogância do director e sem que tivesse um só minuto para continuar a escrever não só nos meus blogues, mas também livros, afinal não poderei abdicar do que gosto e quero uma vida inteira apenas porque sou professor.

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